interceptor

Novas mensagens, análises etc. irão se concentrar a partir de agora em interceptor.
O presente blog, Geografia Conservadora servirá mais como arquivo e registro de rascunhos.
a.h

Monday, July 31, 2006

A insustentável sustentabilidade do ambientalista

Anselmo Heidrich

.

.

Um conceito bastante vago, adotado pelos ambientalistas, é o de “superpopulação”. Vago por que o que é super? Algo demais? O Japão tem uma população próxima a de Bangladesh e não apresenta problemas como este país. Pelo contrário, os japoneses são muito bem providos em suas necessidades e a tecnologia nipônica, igualmente bem adaptada ao seu meio.[1]

Isto confunde muito os leitores, mesmo os com critérios liberais-econômicos, pois quando a população é tratada como mero recurso se esquece que é formada por gente, de pessoas. Esta visão torpe os aproxima dos próprios opositores desenvolvimentistas que costumam louvar as benesses do controle de natalidade como se fosse uma panacéia, o que é na verdade uma Caixa de Pandora. Separar o joio do trigo faz bem. O que ocorreu na China é um bom exemplo disto. O controle (coerção) estatal em que cada casal possa ter apenas um filho levou à preferência por homens, sobretudo na zona rural (melhores como “burros de carga”). Como conseqüência, nos anos 80 para cada 100 mulheres havia 118 homens. Sombrio... Hoje em dia, o estado chinês tenta driblar esta tendência, inclusive coibir o infanticídio feminino, não revelando o sexo em exames pré-natais.

Uma proposta liberal, por seu turno, permite o consciente planejamento familiar que só pode merecer desaprovação mediante algum dogma religioso. Enquanto que o controle de natalidade parte de premissas socialistas e totalitárias, o planejamento familiar parte do liberalismo, decidido e escolhido pelos próprios progenitores e que tem como subproduto desejável, não ter que recorrer ao aborto. Digo isto, pois o argumento liberal-econômico não pode prescindir de outro, liberal-moral em que o próprio agente de interesse, o ser humano, não seja um mero recurso, mas fim em si mesmo, i.e., dotado de meios necessários para atingir seu próprio bem-estar. E qual é o maior bem-estar se não aquele condizente ao princípio de liberdade?

Um modo mais inteligente de se conceituar “superpopulação” não é por seus números absolutos, mas por sua distribuição. Uma das maneiras consiste em distinguir o que é zona urbana de rural. Mas, cuidado! Mesmo aí tem maracutaia! Ocorre que muitas vezes se chama algo de “urbano” pela simples conveniência de criar mais municípios e com isto, ampliar a rede de dependência dos governos estaduais na geração de empregos públicos e seus subprodutos indesejáveis como clientelismo, fisiologismo, nepotismo etc. Esta “mania” não é exclusividade nossa, mas também de outros países latino-americanos que definem “cidade” como um amontoado de favelas e submoradias semi-rurais sem infra-estrutura básica.[2] No Brasil do IBGE somos 80% urbanos, mais que nos EUA! Com este recurso quantitativista, professores ensinam aos alunos que já temos nossas “cidades globais”, simplesmente por que estão conectadas ao mercado mundial e têm filiais de multinacionais. É compadre... Analise o que seu filho anda estudando por aí.

O vício de citar números sem a menor consideração sobre as premissas de seus levantamentos tem respaldo entre ambientalistas e nacionalistas-estatistas. Refiro-me aqui aos “nacionalistas” que louvam o subsolo e deploram os “macacos pelados” que o pisam. A matriz teórica de ambos é a mesma, não passa de um desprezo e ignorância sobre o capital cultural e uma apologia à “mãe natureza” tão somente.

Um exemplo caro aos dois consiste no senso comum sobre a economia restrita a extração de matérias-primas, a mera retirada de recursos do subsolo. Em um passe de mágica, de verdadeiro fetichismo econômico, tomamos o extrativismo como cabeça de ponte da geração de riqueza. O que é problema vira “solução econômica” já que tudo não passa de uma questão de “conservação de recursos”. Esta chaga, a de não beneficiar nossos produtos, enviando-os em estado bruto decorre de outra: quanto mais beneficiado o produto, mais imposto se paga.

O que pode haver de “sustentável” no simples extrativismo? Nada. Portanto, nada mais conveniente a ambientalistas tomarem extrativismo como sinônimo de economia capitalista aplicada à natureza. Sua visão de “sustentabilidade”, econômica e ambiental, a primeira de ciclo curto e a segunda de uma utopia de produtores de subsistência não passam de uma distorção.

Exemplos desta tática deturpadora como a tradicional poluição de mercúrio nos rios, embora já exista métodos de evitá-la, são recorrentes. Assim, explorar pedras preciosas e semi-preciosas na Amazônia não deveria ser um problema enquanto tal. Tais mistificadores criam um “problema”, enquanto se trata de uma situação que já tem soluções.

A ignorância é mimetizadora. Vocês já devem ter ouvido ambientalistas e “nacionalistas” defenderem, paranoicamente, nossas riquezas naturais, especialmente as amazônicas. E ainda com a seqüência de que nossa dívida externa não passa de um expediente para tomá-la de nós, sendo este o objetivo último de los gringos! Quanto às riquezas inexploradas na Amazônia brasileira, bem sei eu que são potencialmente enormes, mas dentro do que se conhece, é exagero supor que dêem para pagar a dívida externa. Mesmo por que, quanto mais se explora, mais cai o valor da matéria-prima, ao passo que os juros da dívida têm efeito inverso. Se o fossem, seria estúpida uma proposta de penhora da Amazônia, uma vez que as possibilidades de ganhos futuras com a sintetização de seus produtos seriam ainda maiores. Pior vai ser quando propuserem o mesmo para pagamento da dívida pública gerada pela gastança estatal, cujo financiamento é mais caro que o da dívida externa.

Mas, diriam nossos “defensores geológicos”, “o país perde com o contrabando, com a biopirataria, com as privatizações”... E continuaremos assim, enquanto existir a atual obstrução burocrática e carga tributária que incidem sobre os empreendimentos, sem contar que privatização não tem nada a ver com contrabando. Isto é sofisma de nacional-desenvolvimentista de outrora reciclado pelo ambientalista de hoje. É a atual legislação que atrapalha. Ao invés da sede por “mais legislação”, temos que desenvolver facilidades na legislação. Seria mais conveniente se perguntar por que as reservas indígenas de muitas regiões já exploram seus recursos e de forma altamente predatória, senão pelo fato de que com um estado hipertrofiado e inepto como o nosso, a própria sociedade cria suas regras e métodos. Contrabando e ilegalidade não são causa, mas conseqüência em um sistema político e econômico, este sim, insustentável.

Sustentabilidade deveria ser encarada como viabilidade de longo prazo, coincidindo necessidades de mercado com reprodução ambiental. Uma prova disto pode ser encontrada na atividade madeireira legalizada. Justamente, a idéia de se aproveitar o reflorestamento ou mesmo o simples florestamento (introdução de florestas onde não havia vegetação superior) para evitar o desmatamento irracional de uma biodiversidade amazônica, potencialmente mais lucrativa com fármacos entre outros. Creio na sensatez de equilibrar a idéia de economia de mercado com o ambientalismo cético e de resultados. Neste sentido, sou realmente fã do eucalipto, esta “planta high tech” que se adapta a ambientes áridos. Ele possui alelopatia, i.e., ele puxa água quando não tem, quando não há, ele sobrevive com pouca.

Portanto, nem tudo que é natural é necessariamente melhor. Mesmo por que o que é chamado de “natural” faz parte de uma evolução induzida na maioria dos casos e, muitas vezes, superada tecnologicamente. O mesmo princípio que norteou avanços de outrora que, hoje é defendido pelos ambientalistas é o que move as inovações hoje contestadas e rejeitadas in limine. Um exemplo que nossos ambientalistas ludditas desconhecem é que os produtos orgânicos têm alto risco. Vocês já imaginaram qual o grau de contaminação ao consumir um produto que utilize como insumo, bosta de cavalo? Que tal uma invasão de bactérias como tempero?

Que fique bem entendido, não sou contra a comercialização dos orgânicos, desde que estes atendam normas de segurança alimentar. Não sou contra a priori por que acho que é um mercado interessante, mais uma alternativa de consumo. Vê-los, por outro lado, como uma “redenção alimentar” é ingenuidade.[3]

Em um tempo em que o produtor não era penalizado por melhorar sua produção, as técnicas de aprimoramento produtivo já eram testadas e introduzidas. Na Inglaterra, as cercas vivas constituem tradição para os entre propriedades agrícolas e, muitas vezes, entre cultivos dentro de cada uma. Além da beleza cênica proporcionada, o que é um fator a mais para incremento do turismo rural, elas mantêm uma pequena fauna local que ataca insetos que poderiam se tornar pragas, contém deslizamentos de terra e minimizam a erosão. Se deixassem tudo “ao natural” a própria eficiência agrícola e preservação ambiental seriam menores, bem como, daí sim, a destruição se alastraria.[4]

Não há contradição intrínseca entre produção e conservação. É uma simples verdade e o resto que se diz por aí é pura mistificação. Para produzir no longo prazo é necessário conservar, com vistas ao mercado. Mas, ambientalistas são personagens sui generis que condenam o aquecimento global, cada vez mais contestado teoricamente, o buraco na camada de ozônio, que em alguns anos tem diminuído ou, simplesmente, sumido sem refletir minimamente quando compram mochilas e óculos de plástico com detalhes emborrachados para suas trilhas, nem quando sonham com um Land Rover no merchandising de uma revista Terra. Para muitos desses seres urbanos por excelência, não há nenhuma aparente contradição nisto tudo. Usar botinas e comer pão integral é legal, mas ter que trabalhar em banco, usar terno, não. Tudo se resume a uma questão de estilo. Para eles, “ser ambientalmente correto” se resume a ignorar os avanços tecnológicos, desdenhar a compreensão da economia e filosofia clássicas, enquanto que usar trancinhas rastafari parece adequado e suficiente.

[1] Se pudermos objetar a caça à baleia, isto não significa o mesmo para seu excelente programa de reciclagem de resíduos domésticos, por exemplo. Cabe diferenciar um caso de outro...

[2] Quem dá a dica sobre o que seria a real urbanização brasileira segundo critérios aceitos comumente no mundo é José Eli da Veiga em seu Cidades Imaginárias.

[3] Para compreender melhor a situação vale acessar este link da agência nacional de biossegurança: www.anbio.org.br/mentiras_verdades.pdf

[4] Exemplos de falta completa de planejamento (por parte do produtor) e inadaptação ambiental existem “às toneladas”. Um caso que me ocorre agora é o do café no Vale do Paraíba, entre Rio de Janeiro e São Paulo, introduzido em vertentes íngremes que poderia ser evitado com a simples técnica de plantio em curvas de nível ou terraceamento.

.

.

No comments:

Post a Comment